Cinco estrofes para ... Oníria
1
Opera-se um certo efeito
a partir de véus
translúcidos.
Objectiva-se
num refego de luz
o néscio refugo
de uma alucinação.
Do olhar, o óbvio
que é de olhos reclusos
no domínio dúplice
ou, no binário “high tec”
ou só, no par e impar
como de um dueto
e de pálpebras
como de asas
e poisadas, assim,
em jeito de pássaro
índigo ou anil;
perdoe-se a hipótese
de ser eu,
por algum motivo, omisso.
2
O absoluto do olhar
captura-se, incauto,
com trejeitos diáfanos
entre membranas.
Mas, no meu caso,
do inferir de miopias,
tudo será mais próximo
e os gestos transcorrem de ideias
e essas tão lúcidas
ou tão só pálpebras semicerradas
num quase desagravo
entre olhar e entrever.
Leio, então, o cetim,
o sonho e as nuvens
enquanto muito naturalmente
se definem parâmetros
do assumir de uma presença;
neste caso, a tua.
3
Ao acontecer uma voz,
és tu, naturalmente:
és a fala de desfiladeiros
e precipícios de estimação,
o gemido da vertigem
em que se exprime
o mergulho a pique
mais o que de nós segue
em tudo o que somos
deduzido, com rigor,
o quanto simulamos.
Sobretudo, nada de cauções
nem garantias de ocasião;
Ao acontecer o silêncio
não se esgota o ressoar
da tua garganta
mas é o tempo de eu beber
uma suave porção
do teu sorriso de milénios.
4
É de facto meu este agora
de ficar sem te ter…
meramente saber-te perene
e em frente, por aí fora,
sem couraça, nem temor,
coragem tampouco e pior...
até sem amor.
Ao acontecer o ocaso
é um sobressalto aqui
que assalta o peito,
pelo tal sonho
que não tem coisa nenhuma
nem de se cumprir.
5
Pois, vá-se leve!...,
tão mais leve que o ar
e sempre pelo sonho se esteja
e por ele as chamas
de um e outro lado e ao longo
de todas as pontes.
Pelo sonho e dele até aqui
e em tudo de um princípio
ou de um fim, mas dignos
como o direito de alguém
se borrifar para os moinhos
de ventos que lá se foram.
O mesmíssimo direito
de D. Quixote gritar
pelo sonho vivo
e pelo nome de Dulcineia.
________________LuMe