O DOMÍNIO DO MEDO

O DOMÍNIO DO MEDO

Cadê o meu tempo, senhor soberano?

Ando sem tempo para mim e para todos,

Ando nervoso querendo ser o matador,

Matar o primeiro que aqui aparecer...

Meu reflexo no espelho é quem aparece,

O tempo marcado na minha face branca,

Quero ser o matador de todo o tempo.

Na face, a teia de aranha do tempo marca,

Eu espero um inseto perfurar a minha face.

Ansioso em dormir, ansioso para acordar,

Maldita ansiedade que preenche o tempo,

Nasce dia e morre dia e vem à noite bela.

Passo as horas com um sono intenso crônico,

Passo insone as noites que demoram a passar,

O tempo gera ansiedade e medo não quer ir.

A depressão já me alcançou outras vezes,

Colou em mim o tempo todo, ah... Maldita,

Agora ela me cerca como o fogo queima,

Tudo está negro, e o tempo escoa lento.

As cores do arco-íris são apenas tom de cinza,

Do histerismo brilhante à tristeza fúnebre,

Tudo é luta e luto, sem carnaval ou sem paz,

Mas sempre quero partir atrás de Gandhi,

Seja dos filhos de Gandhi ou do senhor indiano.

Quero apenas partir, mas falta a minha força.

Partir, ir, sumir, cair, simples sem beleza.

Tudo está me incomodando neste momento,

Não tenho a juventude dos surfistas belos,

Minha tatuagem de dragão está se apagando,

A do golfinho era proibida até pelo senhor Deus.

A burrice me incomoda, mas me acho burro,

Os erros do passado andam a me perseguir,

Não há canção cantada para se ter amor próprio.

Ando apenas vivendo como sendo um zumbi,

Sou vampiro ou zumbi sem ter uma emoção,

Não quero que amanheça o dia para ter que viver

E o aperto no peito quer me fazer explodir.

Não quero mais criar desenhos surreais ou belos,

Não quero caminhar para me manter em forma,

Não quero mais beijar o beijo que não chegou,

Quero apenas voar até o asfalto quente e negro.

Beije-me asfalto com sua boca desdentada e feia,

Seja meu último amante invadindo a minha presença

Transformando-me em obra de pintor contemporâneo,

Meus troncos, braços, pernas e vísceras numa tela,

Tudo misturado com a sua negra presença, negra.

Minha articulação têmpora mandibular incomoda,

O zumbido na cabeça é livro em chinês para mim,

O domínio do medo se instalou longe de todos,

Longe de todos, mas muito bem dentro de mim.

O pé que não para de doer e nem de me manter,

Dói o joelho e também o quadril como sol a luzir,

O ombro dói quando o braço se levanta como o sol,

O pescoço parece rua de paralelepípedo e está duro,

Só não me dói o cabelo que ainda está escuro.

Queria ser um zumbi ou talvez um vampiro faminto,

Comer cérebros e tomar sangue e ser apático,

Mas estou tão apático e não sou um ser das trevas,

Estou nas trevas e vejo trevas em todos os lugares,

Estou vivo, muito vivo e isso é tudo que não quero.

O ar me falta nos pulmões que inflam e expandem,

A minha pálpebra não para de tremer, incomodo,

Creio que meus olhos querem voar e da terra partir.

Câimbra eu estou vivo, muito vivo e a tal dor é cruel,

Ranger dos dentes e acordar no meio da noite com isso,

Engasgar até com o próprio ar e com isso tontear,

Acho que a data de validade nos meus fundis acabou.

Tudo me leva a crer que quero ir e que vou, voo...

Inúmeras vezes no dia eu quero apenas vomitar,

Mas a cirurgia no meu esôfago nem isso me permitem.

As costas doem em qualquer posição que eu esteja,

O domínio de meus medos é ter que ser cuidado...

Ando triste num estado crônico que se perde no tempo,

O peito parece que vai implodir, há taquicardia agora.

Acho que estou hidrofóbico, tudo me incomoda agora,

O sol me dói nos olhos, os sons me doem na alma,

Irritação constante como um rodar para o Orixá.

A pressão sobe, a pressão cai, montanha russa no corpo,

Às vezes parece que estou indo para a lua no céu,

Outras vezes parece que estou indo para o inferno.

A labirintite atacada e eu tendo que sorrir sempre,

Como o galo que canta sempre, faça sol ou chuva.

Sexo! Para que fazer se quero apenas é morrer e ir,

Nem para a terra de todos os santos eu quero retornar.

Sinto-me como bandeira branca suja de sangue rubro,

O prazer pode vir mais intenso em um analgésico forte.

Escrevo sem ar no cérebro e com o coração acelerado,

Não quero mais andar, nem quero mais meter.

Tudo roda e tudo gira e na boca apenas a secura,

Secura do sertão que a muito não vê uma got’água,

Não há ressaca que me seque tanto como estou agora.

Engordo como um porco para o abate de pascoa,

Quero ir embora e tenho que arrumar desculpas,

A tristeza é explicada por uma rinite alérgica forte,

O perfume de alguém imaginário atacou o nariz e a alma,

Nem uma oração a virgem mãe puríssima eu ainda creio.

Converso por conversar, e sorrio quando os outros riem,

Tudo numa mentira como o discurso de um político,

Como estudar se minha vontade é me tornar comida?

Leio mil vezes tudo e não guardo nada além do tempo,

Tempo que passou nos ponteiros de meu belo relógio.

O medo me domina em cada movimento, será jogo?

A morte virou um pensamento frenético e grudento,

Como a morte pode ser o silencio de um bebê gelado.

Quero álcool com barbitúrico e falar enrolado ao vento,

O beber pode me trazer Orfeu, mas não leva a angustia,

Não me apresenta a Dama de Negro que é minha sina.

Estou cansado de tudo, estou tão cansado de todos,

Falta me cansar de você e então me isolar do mundo.

Adapto-me a você, pois você não me procura então fico,

Venha desperte, pelo menos o meu falo ainda quer prazer,

Desperte-me e ajude-me a caminhar como um vento,

Vento que cria as dunas e leva-a se movimentar, belas.

Mostre desejo, pois posso cansar de mostra o meu,

Luto para sair da inercia, mas se sair aonde eu irei agora?

Na inercia encontro outros inertes e criamos teias de aranha

Luto! Talvez eu voe! Por que rimar amor com a minha dor?

A rima é uma onomatopeia num jardim malcuidado,

Numa fração de segundo um ser humano parte e é notícia,

A notícia durou apenas um dia, suicídio ou apenas uma queda?

Não importa, pois o sofrer terreno passou e isso é o destino,

Se há algo além da daqui, espero a canção acabar para saber.

André Zanarella 12-03-2018

ps. Se você se viu em qualquer verso desde texto, pense seriamente em procurar ajuda.

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 02/04/2018
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