EXALTAÇÃO
Sou de Recife, visse!
Terra de mar e luz e sol e pontes.
Do frevo, de Capiba,
Das águas do Capibaribe
Que junto com o rio Beberibe
Criaram o Oceano Atlântico.
Sou da terra de Bandeira,
da lua altaneira que se derrama em cascata
Sobre os paralelepípedos de prata,
Polidos com o sangue dos libertários.
Vinde! Ó povos do mundo inteiro
Ver e ouvir os poetas, repentistas, cancioneiros
E conhecer a verve de um povo que luta frevando
Que fala cantando e morre gozando dos otários.
Sou de Recife, visse!
Do cheiro da maresia,
Da velha Rua da Guia,
Do tempo do Chantecler.
Do Savoy, do Mercado São José.
Dos casebres mocambos e sobrados
Dos rios, das campinas, dos bairros alagados.
A brisa do mar sussurra em cada esquina os desejos febris
Dos marinheiros chegados de longe, à procura
De aventuras que abastecerão suas
Existências vazias.
O rio traz
Das vísceras cruas
E nuas de um corpo amputado
O lamento e o canto de velhos escravos e índios
Sepultados pela ganância de latifundiários desumanos e cruéis.
Sou do Recife com orgulho e com saudade como disse um poeta
Inspirado, e talvez com uma lágrima no olhar.
Saudade da Livro Sete, da serpentina,
Do confete, pierrô e colombina
Cheiro de lança-perfume no ar
Saudade da casa navio, Maria-fumaça,
Lambe-lambe na praça,
Uma pipa a voar.
Ah! Recife! Gerado nos arrecifes e nos bancos dos mascates,
Quantos cortes e açoites suportastes
Em nome de uma liberdade
Ainda que tardia.
Mais menino!
Que terra é essa que cheira a poesia?
Que chão é esse que respira a nostalgia?
Que luz é essa que ofusca até o mar?
Mais menino!
Que canto é esse que dói até na alma,
Seduz o corpo e rompe a calma.
Faz a gente delirar?
Esta é a terra dos sonhos sepultados nos canaviais
Que ressuscitam nos asfaltos, nas ladeiras,
Nos mangues e nos coqueirais
E trazem a poesia
Aos carnavais
E à vida.
Este é o chão de onde brotou a liberdade
Adubada com o sangue dos heróis
Que ousaram contestar.
Este é o canto
Dos nagôs, jejes, bantos e ketus
Que com seus maracatus faz a noite se alegrar.