A rua

Sentado sobre o chão sujo e gélido,

Abraçado em minhas pernas esqueléticas

Busco algum ilusório conforto escondido em lugar nenhum

Parece que apenas existe a solidão e eu

Um casal pra lá de estranho, mas combinamos de fato

Imperfeitos e sem um pingo de felicidade

Um matrimônio amaldiçoado por algumas escolhas

Ouço uma voz que ecoa no silêncio da alma

Um murmúrio de vozes que me dizem o que fazer

Tingido de vazio, a mente rabiscada de transtorno

Sinto cada palavra como se fosse punhais

Cravejado na dor exagerada, a esmo de tudo

O sangue transparente desce como rio pela minha face

Levanto e finjo existir por segundos...

Esfrego os olhos remelentos

Olhos que estão na cor púrpura

Olhos derribados em um rosto caído

Às vezes

Consigo enxergar gente que mal olha pra mim

Os que olham, estampam ânsia sob os olhos

Só as crianças me fitam...

Andarilho, andejo por vielas enegrecidas

As luzes dos postes não brilham quando eu passo

De lado ao outro, vou e volto

Abandonado por uma razão, tóxico, e um tanto contagioso

Não vejo as manhãs como chances de uma nova vida

Tenho urdido meu óbito, isso eu sei

Largado na sarjeta social

Discriminado, doente, sofrendo

A rua me engole a cada dia...

E todo anoitecer, recomeça a mesma história...

Morador da rua, morador na solidão, morador do caos urbano...

Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 13/04/2018
Reeditado em 13/04/2018
Código do texto: T6307731
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