SONETOS:  RIO SÃO FRANCISCO
Geraldo Bezerra
Correntina – BA
14/11/2016 

I
Morto vivo, corre agonizante
Areia e lama o teu leito invade.
Sofrimento silencioso e agonizante
Procura em vão ares, para respirar.
 
Milhões de anos gerando vidas
Peixe em fartura e alimentos fartos!
Ribeirinhos tristes, em seus quartos, choram
a tristezas de vidas banidas.

 
Quem dera Deus, a vida oferecer-te
No leito erguido vidas florescerem
Alegro fico, pois não vou perder-te.
 
Peço ao Pai que te dê vida eterna
Pois seus filhos de te sobrevivem
Das abundancias que teu leito externa.
 
 II
Quase sem vida seco e sufocado
Morrendo a mingua,  cheio de mágoa
Para repor o que lhe foi tirado.
 
Me lembro bem chegando em sua margem
Vapores e barcos lindos a desfilar
Lindas morenas, louras e mulatas
Atravessando pra lá e para cá!

Difícil era ver o outro lado
Sua largura de admirar!
O Velho Chico hoje é passado.
 
Tristonho fico, ao ver desolado
Seus afluentes, também  a sofrer!
Por falta d’água, estão assoreados.

Jurandi de Assis - Samavi 


  III
Alegres eram dias de viagens
Violas a bordo e muita alegria
Fitavam os olhos em suas paisagens...
 
Vapor lotado, muitos estudantes
de volta das férias
Alguns tristonhos pois por lá deixaram
As namoradas, noivas ou amante.
 
A noite chega a lua a brilhar
Relembram tudo que aconteceu.
Durante as férias naquele lugar
No fim do ano todos vão voltar
Para rever seus amores deixados
Em suas casas, sempre a lhe esperar.

 IV
Seus pescadores procuram em desespero
Alguma coisa para se alimentar
Já não existem peixes em seus pesqueiros
Pacu, dourado nem curimatã
Suas águas poucas, lameadas e lentas
Descem fraquinhas em direção ao ma!r
 Outrora forte como uma tormenta
Hoje a pé, dá pra atravessar.
 
 
 
Barco e vapor já não existem mais
Navegar não é mais opção
Restou lembranças de tempos atrás
Os barranqueiros tristes a lamentar
A falta d’água para irrigar
As suas roças para se alimentar.

V
Quanta alegria já nos proporcionou
Muita fartura por onde  passava
São aguas lindas Deus abençoou
Irrigava a terra, e nos dava peixe de graça.
 
Veredas, campos cerrados e florestas
Vilarejos e cidades,  ficou pra traz
Segue seu destino, livre... modéstia!
Segue em frente, não volta jamais.
 
Tão poderosas são as suas águas
As hidrelétricas há anos fornecendo 
A energia que clareava a escuridão!
Prosperidade é a palavra chave
Por onde passava, riquezas a deixar
agora segue lento, calmo e seguir...
 
VI
Nascido a milhões de anos
Descoberto após mil e quinhentos
O seu leito caudaloso e plano
Cortam planícies sobre o sol e os ventos.
 
O seu nome era “opara”
Denominado pelo povo indígena
Seu significado era rio mar
Por sua grandeza a água tão serena.
 
Invadido por colonizadores
Para gado ao seu redor criar
Dizimando os índios, os seus moradores
Muita intriga entre exploradores
Deixaram marcas em todo lugar
Em vez de todos semearem flores.

VII
Pankararu, Atikum Kimbiwa
São tribos remanescentes
Truka, Kiriri, Tuxa e Pankarare
São todos irmão da gente.
 
Muito ouro e pedras preciosas
Atraíram aventureiros para explorar
Em suas margens, várzeas e veredas
Pedras lindas raras e valiosas.
Com suas atitudes gananciosas.