Onde eu estava?

Onde eu estava?

De repente acordo,

não vejo as flores que estavam ali,

por todos os lados.

Procuro os sorrisos de outrora

e apenas carrancas se abrem,

num estertor quase impróprio.

Onde eu estava?

Que não via essa rouquidão escandalosa,

vivia embebido no meu velho vinho.

Parece que era cego,

então,

me apaixonei,

me embriaguei,

e absorto, não vi essa metralha.

Onde eu estava?

Lá havia paz,

havia de tudo um pouco,

me satisfazia,

agora, acordado,

me vejo sem alma.

O preto amordaçado e açoitado,

o diferente impossibilitado de se manifestar,

o religioso com seu lindo turbante,

apedrejado.

Acordo de repente

e o que vejo?

Porta aviões,

corpos dilacerados,

envoltos em panos velhos,

todos mortos,

o império acordado e destruidor,

uivando e rosnando,

furioso, poderoso,

sem rival.

Onde eu estava?

que não sabia viver,

assim, consumindo,

despropositadamente,

impiedosamente.

Eu sentia a aproximação do outro

e era tão bom,

e agora?

Eu urino e cago em ti,

te chamo de nojento.

Fiinalmente cheguei,

quero voltar.

Onde eu estava,

era melhor.

Lá eu amava,

vivia um dia de cada vez,

só precisava de ti.

Aqui, sou humano demais,

lá se podia viver sem nada,

perambular pelas ruas,

respirar o ar puro das noites estreladas,

olhar o mato e colher plantas silvestres.

Agora, no front, o campo minado.

Não volto mais,

quem sabe posso agir,

me atirar de corpo e alma,

desenvolver meu espaço,

viver assim, desperto,

consciente.