CARTA SOBRE A POESIA

por favor

digam a ela que não dá

que tentei sempre

que tateei

e procurei até entre os vãos

mas que não encontrei

expliquem a ela, por exemplo

que ontem foi uma noite atípica

com dores e insônias em

vários lugares ao mesmo tempo

por isso não deu

e que hoje também

foi um dia de lutas vãs

desde que rompeu a manhã

mas toda guerra é suja

injusta e inconsequente

e ela

e eu

e nós, reunidos nesse campo minado

só sabemos a linguagem da lama

do sol inclemente

do frio causticante

e essa claustrofobia do tempo

que arranha e rói a ponta de nossos dedos

nesses tempos sem deus

que matam em nome de deus

lembrem ela - é meu último apelo -

que só a ele servirei

(se é que sirvo para alguma coisa,

se é que sirvo alguma coisa,

se é que me sirvo - alguma coisa)