Tempo. Que dizem forte e derradeiro

Tempo. Que dizem forte e derradeiro

a todos de bravura ou covardia;

o que vemos, sabendo, com receio,

a espera inesperada, a noite e o dia.

Tempo. Se há quem lhe encare o altivo cenho,

é o que não teme o fim da própria vida,

mas ao que resta ainda o que ser feito

o tempo é mais que o rei junto à rainha.

"Não deixa o tempo ter, humanidade,

o brinquedo do mundo em poder,

não deixa o tempo ter capacidade,

não deixa o tempo ser e te vencer.

Não deixa o tempo, tem tua vaidade,

dita esbravejadora teu querer,

não deixa ao tempo a regra da verdade,

inventa esse elixir do mais viver!..."

Porém tempo. O neném chega informado

do que o avô nega, triste, ser real

ou se faz de maduro conformado

porém teme em seu íntimo animal.

Reza. Reza! No infanto primo passo

por mais um sono em vida corporal;

e ama aquele ridente, abençoado,

crente de a eternidade ser vital.

Deus, dizei: sois projeto de ilusão

criado no passado delirante

ou fato como quer meu coração

sedento de esperança inebriante?

Deus, dizei! Mesmo ao custo da audição

dizei a mim um verbo crepitante

que ponha fé no peito sem ação

de quem sonha ver homem esse infante.

Tempo! Certeza dúbia pela fé,

mas ainda certeza: a morte prova.

O jovem junto à moça ao canapé

assiste ao velamento. Há medo. Chora.

"— Não deixa eu te deixar, minha mulher,

não deixa no futuro nem agora,

há muito a nós, há sempre, há a quem quiser!

Não fui feito para um dia ter de ir embora!"

Mulher! Mulher rezou a Deus, em pranto,

gotas que se esqueceram no carpete;

o tempo as secou qual deliu o manto

que cobriu o senhor aos cento e sete.

18, 19/5/2018

Assistindo ao início do documentário José e Pilar enquanto numa fase de conversas a esse respeito com Abelha.

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 19/05/2018
Reeditado em 31/08/2019
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