Existência

Será que estamos todos na mesma crise? Ou, apenas inseridos numa fase surpresa, como um capítulo extra? A propósito, de que se trata a tão falada identidade? A crise, afinal é identitária ou existencial? Ou tudo não passa de um processo de busca por significação?

As questões borbulham na mente. O tempo parece ter estagnado. Aliás, o tempo até corre, os grãos até caem da ampulheta, contudo, nós – que não somos uma unidade de tempo – paramos em nós mesmos. Os córregos fluem a nossa vista, mas nós mesmos estamos vazios. De significado e sentido. Há algum tempo era fácil se projetar. Fazer planos e com toda a garra correr, era empolgante. Porém, de súbito. Tudo muda. Ou melhor – é difícil escrever sobre isso, acredite – tudo em nós, muda.

No ir e vir das precipitações, dos planos frustrados, das metas não batidas, das decepções de não ser melhor que um dia antes e ainda assim ter que acordar e respirar e prosseguir na árdua tarefa da vida... daí partem os conflitos. Por sua vez, esse estado é deprimente. Mesmo tendo as justificativas pra o mundo, não se encontra justificativas pra si. Um conflito que se dá consigo próprio, por vezes, nos tornando réus de nossa identidade e existência. Por que? Pra que? Como? Onde? Afinal de contas, quem sou? Aí, estamos diante da necessidade de nos descobrirmos e redescobrirmos. Quem era até então, parece não ser relevante. Até então, havia uma explicação pra o lugar ocupado na vida do outro. Era nítida a lacuna que preenchia com um lugar único. Entendia a função exercida para o outro da história. De súbito, as certezas são levadas sutilmente e as convicções se desfazem como pó. Daí, crise existencial. Pra que sirvo? Por que sou? Por que eu?

Percebemos que navegamos num mar bravio tempestuoso com uma vela perdida levada pelas ondas das incertezas. Destino? Aonde se tenha plenitude. Como marujos cansados e exaustos sem noção dos monstros que surgirão no velejar, estamos nós a procura de quem justifique e signifique a experiência existencial.