PEGUE-ME, GUIE-ME.
Pegue, tuas mãos
de fantasias,
e coloque-a sobre as
minhas mãos caipira,
elas são ásperas ,
misticas , mas ternas.
Coloque-as antes que
a noite adultera morra,
respire o poema que
lateja no meu peito,
deguste minha respiração
em pequenas doses.
Ela, a respiração, traduz
o que passa no meu coração,
e este agora, é o expresso
gosto da terna felicidade,
cole em mim, este muro,
sentimento sem fim, brisa
morna na quente madrugada.
Coma e beba o farto prato,
deste tempo do corpo,
ouro de Minas, pedra bruta
brilhando nas quebradas,
pranteia lagrimas de gozo
sobre meu peito suado.
Recaia sobre nos
este tempo peremptório,
luzes, estilhaços, matizes,
que nossos sentidos sejam
bem mais que querer,
seja realidade.
Sobre o futuro,
deixe-o correr a passos largos,
o presente é só nosso,
que escorra sobre nós, o manto
da noite,
como uma nuvem que corteja
a mais simples paisagem.
Desta janela que me descortina,
me construo na maciez
da rocha esquecida na mata,
e como faz bem, sua calma,
e neste loquaz discurso,
me esvaio em sinceridade.
Venha, deposita suas mãos sobre
as minhas,
caminhe em mim,
como um rio no seu leito,
e deste grito que em eco se faz,
me faço em longa margem,
para que deite na maciez da
relva carne,
para nos fundirmos
num só suspiro,
e no abraço da noite,
matarmos a infinita saudade,
pegue-me, guie-me,
nesta morna madrugada.