A CURA

Como seiva elaborada

o teu sangue já circula dentro de mim

e agita meu coração

como os segundos do velho relógio de parede

mas tu ó virgem

oculta o som do carrilhão

para que eu não perceba

o passar das horas

e o prenúncio da alvorada

Eis como eu morro

todas as noites

morro me deliciando

com a tua doce substância

que o floema me traz

eu morro te amando

como um peixe que

desafia a rede e seca-se fora d'água

morro na transfusão do poema

algo que para mim é sangue e vida

mas para quem me lê

é só um aljôfar de absoluto "nada"

tão sábia

a anta e se esfrega na casca

de uma árvore medicinal para se curar

eu porém desejo banhar-me na cachoeira

onde nasce o Rio São Francisco

pois é morrendo

que se nasce pra vida eterna

e é se lançando no nada

que se aprende a voar

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