ÚLTIMAS FOLHAS.

Ai meu Deus,

lá se vão elas...

é um vaivém desregrado

no gradil da tarde,

vultos suaves da mais

fina queda,

ai meu Deus, são elas,

folhas de outonos, as últimas.

Para mim já é inverno,

para elas... Céu ou inferno?

Me digas, agora,

porque caem as folhas?

tão belas, tessituras...

Psiu, essa ultima que

agora me encanta,

nem tão bela é,

olho-as no chão, os olhos

passam, os pés passam...

o vozerio das beatas prestes

a santificar-se também passam,

santo,santo,

estou encantado,

olho o céu pedrez , sisudo,

botando nas tardes uns atos frios,

ai , meu Deus, deixe-me abotoar

a camisa,

as folhas e o frio me esfria,

nada me tira a dor da árvore,

mulher desnuda

neste fim de tarde,

perdestes tudo, folhas e sonhos,

meu Deus ,porque isso?

meus olhos sonâmbulos nesta

cara sem graça,

vão se intrometendo nos vossos

mistérios,

porque as folhas de outonos

caem?

Meu Deus... Deixe que eu escute

o silêncio das arvores.

Mas pra que ah de me escutar,

se tudo que é,

é por vossa misericórdia,

varrei da estupidez do chão

cada folha,

Para que eu acalme

o fogo da carne,

Ai meu Deus, lá vem a noite,

não tenho mais o que fazer,

o que quero,e o que posso,

é sair desta profusão de palavras,

para que eu deite e durma,

para um novo amanhecer.

Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 23/06/2018
Código do texto: T6372221
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