O SILÊNCIO.
Escute, este ruído
é o silêncio
que se aproxima,
calma, lá vem ele,
passo a passo,
pé anti pé,
nem uma folha arreda-se,
tudo é calmo, e a noite
abaixam as cortinas,
cuidado! Deixe a noite
acontecer,
a noite precisa ganhar
vidas,
o silêncio precisa de palco,
ele trabalha no campo
da nossa alma,
tudo muito mais além,
uma nuvem trafega no céu
do silêncio,
psiu, disse o menino a mãe,
não fale alto! Lá vem ele,
pé anti pé, passo a passo,
acaba de escalar os muros
frios dos acontecimentos,
gira a maçaneta,
pronto, ele agora está
encostado na parede,
quer fazer um pronunciamento,
ele grita , e seu grito
não é grito,
é reflexão,
ela então vai ao quarto,
apaga o abajur moribundo,
coloca a camisola branca,
estica-se na cama arrumada,
puxa os cobertores,
revira na sua inquietude,
as janelas fechadas, tudo escuro,
epa!
O silêncio então ataca,
cortas as algemas,
penetra a geografia da alma,
remexe as gavetas,
acorda uivos de outrora,
conscientiza o coração,
planeja outras estradas,
fabrica a expressão de anjo,
da ataque de dor,
e lá pelas altas horas,
o silêncio então parte,
pé anti pé, passo a passo,
abre a porta, escala o muro,
e se vai...
O silêncio é uma escola,
por onde a alma se esculpe,
o corpo é fugaz,
enquanto ele degrada,
a alma desabrocham rosas,
e o silêncio?
ah, o silêncio , segue...
Pé anti pé, passo a passo,
lapidando outras vidas.