Ruas do acaso
Quando eu não tinha ainda
Esses olhos tortos
De cão com hidrofobia
Quando de vez em quando
Enchia as agonias com aguardente
Caminhava nas ruas ao acaso
Nos bairros insalubres de madrugada
Eu era quase feliz e angustiado
Pisando nas telas do universo
E via cada verso quase escrito
Nas paredes dos prostíbulos
Em convulsão e alegria
Sorrisos e gargalhadas
Decantava a poesia
Pelos corpos nus
Dançando nas vitrines
Mas veio o mal montado na besta fera
Com suas asas de ira e saliva de silêncio
Inserindo as artes no patamar do crime
Em retalhos de mordaças apodrecidos
Mesmo trôpego, triste e cansado
Escreve-se com mais força, freqüência e ritmo
No devaneio moribundo da desilusão
Utilizando o direito último de estrebuchar
De quem está perto da morte, mas disfarça.