As últimas coisas

Eu temo as últimas coisas.

O último encontro, o último abraço,

o café feito com carinho na manhã anterior,

a roupa usada na noite antes do acidente,

a última canção no violão de

madrugada – a madrugada virada pela última vez.

Temo a viagem derradeira, a rodoviária

e sua nostalgia triste, o olhar de adeus

da janela do ônibus, a curva da

rodovia – a rodovia percorrida pela última vez.

Temo a palavra não dita, o amor não declarado,

a amizade não verbalizada, o prato

preferido não preparado,

os passos se afastando até o encobrir da

esquina – a esquina dobrada pela última vez.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 07/07/2018
Código do texto: T6384228
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