As últimas coisas
Eu temo as últimas coisas.
O último encontro, o último abraço,
o café feito com carinho na manhã anterior,
a roupa usada na noite antes do acidente,
a última canção no violão de
madrugada – a madrugada virada pela última vez.
Temo a viagem derradeira, a rodoviária
e sua nostalgia triste, o olhar de adeus
da janela do ônibus, a curva da
rodovia – a rodovia percorrida pela última vez.
Temo a palavra não dita, o amor não declarado,
a amizade não verbalizada, o prato
preferido não preparado,
os passos se afastando até o encobrir da
esquina – a esquina dobrada pela última vez.