MINHA ALMA EXISTE!

Saudades...

Saudades de tudo...

De um mar seco de vagas

De um céu nu de nuvens

De montanhas isentas de fragas

De praias esquecidas de espuma

De um luar sempre tão pálido

De uma manhã mais cinzenta

De um dia triste e tão cálido

E de uma presença desatenta

De um deserto onde se perder

De uma mata para pensar

De um jardim onde podem correr

As crianças dos outros que nada nos têm para dar

Das recordações perdidas na hora

Da noite fria mal dormida

Do vento que ruge lá fora

E da lareira onde a madeira agredida

Estala com lume ao libertar

A alma seca que voa

E cheira a pobre que parece chorar

A sua vida mesmo que não doa

A vida seca a arder

Com os olhos secos de tempo

Secos por esperar e não haver

Algo que se traga no vento

Da manhã nova que faz inveja

Porque é nova e nada deseja

Senão acabar cedo… numa certeza…

E nem praias nem céus nem desertos

Nos conseguirão manter despertos

Quando soubermos que não há viver

Porque o fim da vida tem que acontecer

E tantos não a esperam tão cedo

Não faz mal… Não tenhamos medo

De deixar de ver tudo o que é belo

Pois tudo isso não passa de um elo

Entre este viver e o que há-de vir

“Quem já não sente já não vê nada”

Mas eu verei tudo até ao fim

Pois sinto com a alma que me foi dada

Não quando nasci mas quando dei por mim.