O HOMEM PÚBLICO.
Lá se vai o homem
público carregando seus
conchavos na mala,
ele jamais andará de alma
lavada.
Seu sono repousará num
travesseiro de espinhos,
suas noites serão longas
e tediosas,
seus discursos não serão
mais ouvidos,
pobres homens lameados
de fétidos poderes,
pobres,
caminham nas carnes temporárias,
este fiapo de tempo por onde
percorre o corpo,
estes fugazes gozos serão um dia
pedras no coração da alma,
uma musica toca ao fundo,
resolvo não introduzi-la no
corpo reflexivo deste poema,
a chuva fina que cai lá fora
lavam os paralelepípedos ,
e eu penso, não lavará as
vestes deste homem publico,
vejam, estou fugindo da minha
proposição,
pé na estrada, lá vem ele...
reintroduzo nesta reflexão,
ele dormirá hoje de alma lavada?
os papéis assinados,
as longas reuniões nos gabinetes,
as costuras politicas,
e enfim ele vê os servos deitados
nos retrocessos,
pronto a fugaz felicidade íncide
em teus olhos,
pronto,
mais um degrau, pisa mais alto,
chega ao cume,
mas o tempo dono dos nossos
destinos correm por
fora,
e ninguém o avisou desta verdade,
em breve o tempo terá comido
suas ilusões e o homem público
será um velho vulnerável,
ele então comerá o pão que amassou,
olhará a eternidade ,
como alcança-la ,
a alma está pesada,
não há mais tempo de reparo,
ele vira na cama , os espinhos
plantados os apupam ,
pede clemência, clemência não há,
a lei de Deus é reta,
ele apalpa seus bens,
mas a alma queima em desatino,
ele chora, agora é um menino
pedindo perdão,
mas as dividas foram tantas,
na dualidade; corpo e alma,
não ha como compensar,
a alma é eterna ,
o corpo é curto voo,
o homem público se foi,
tempo perdido,
com as avarezas da vida,
acabou-se o mundo.