VÉU DEPAUPERADO
Poema de:
Flávio Cavalcante
I
escrevo nas entrelinhas a decepção
Daqueles julgados sem merecer
Um punhal gravado no coração
A dor da vergonha é melhor morrer
II
O no amarrado que dificulta o falar
A vontade que incomoda e enlouquece
De ver e ouvir sem poder explanar
A verdade que não foi dita me entristece
III
Só depois que as lágrimas caíram
Que eu pude sentir o nó na garganta
Fedida é a dor dos podres que surgiram
Lavagem do lixo que a poeira levanta
IV
O erro foi dissipando pouco a pouco
Igual a escrita mal escrita e apagada
Como a agonia do ser mudo e rouco
Irmã gêmea da língua podre estampada
V
No ombro desceu o véu depauperado
Que ao olhar para trás com veemência
Vi no longínquo e árduo passado
Todo reflexo da minha consciência