Poema-manifesto

Poesia como ativismo?

Bem, eu até que curto...

eu até que canto

junto com aqueles que erguem os punhos.

Sim...

eu também dou coro

às vozes que gritam

às vozes unidas

que no meio das outras

se lançam

avançam

levantam

uma bandeira qualquer.

Sei dos meus problemas,

sei que há pessoas que tem

os mesmos problemas que eu...

sei que há pessoas que pedem

as mesmas coisas que eu

e que também têm

as mesmas ausências que eu...

mas quando escrevo,

não é sobre elas...

alguns se identificam, eu sei...

mas não é sobre elas...

é sobre mim...

meu coração é feito de carne,

não é feito de causas...

meu coração bombeia sangue

e não ideais...

meu coração cabe muita gente...

mas essas gentes nunca

entraram nos vazios...

há muitos abraços

que eu gostaria de dar

muitos beijos a distribuir

muitas palavras a dizer...

mas as dores minhas...

essas são só minhas

mesmo que escritas

em poesias às vezes piegas...

por isso a poesia

nunca será minha bandeira...

antes, será meu bisturi...

que me abre e me sangra

me machuca

em público...

aos olhos de todos...

se eu fosse levantar uma causa

talvez a solidão fosse a única.

Porque ela é quem me evidencia

e deixa os vazios mais aparentes.