O grito

Ouve-se um grito

De tristeza

De cansaço.

Cansaço da vida

Cansaço da dor

Da seca que queima o sertão.

Um grito abafado,

Sem eco. Surdo.

Um grito de fome e rouquidão.

Um grito que a audição não ouviu

Só o corpo sentiu:

Com o desânimo

A falta de força

A fome.

De nada o home do sertão desiste

Quer esquecer o grito

Mas a malvada seca vem

E o consome.

O ar é um pó

E espalha o grito

Abrindo o sol

Levando as nuvens

Pro infinito.

A tristeza que traz o vento

Penetra corpo adentro

Chega a atingir a alma.

A alma do sertanejo

Que se orgulha do seu trabalho

Do seu manejo.

Da vida, do que produz

Com ânimo.

Mas a seca traz

Com ela o desânimo

E a desesperança o seduz.

O pouco que resta

São as lembranças de Deus

Que vai calar o grito

Aliviar o sol e trazer as nuvens

Por mais distantes que estejam

No infinito.

Luiz Viana
Enviado por Luiz Viana em 16/08/2018
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