PROGRAMA
Com gratidão!
Sábado bem poderia ser
de sol. Mas é noite de mormaço.
Como num castelo renascentista,
ponho-me a acender as velas dos livros,
o tinteiro por sobre a folha.
A visão da floresta atravessada na janela.
Poderia ser de reparos ou celas de monge,
mas é de pão, pão e água para limpar
o corpo que desdenha iguarias tão luxuosas.
Palavra estranha está, para quem não anda
em bando fazendo algazarras e apupos,
serenatas para donzelas, de suas sacadas
tão corpulentas e envaidecidas.
Perco as horas, perco o dia
neste estar sozinho, estar comigo
a ter como único ouvinte e interlocutor
o espelho velho onde bruxuleia em vulto a chama.
In " Poemas por Hora", 2017