O PAREDÃO E O MAR

– Ó, pedras quase afogadas no oceano,

lavadas pela salgada água do mar,

sois blocos e não poético engano,

sonho deste velho vate a te fitar!

– Ó, meu paredão, nada te furará,

muito menos este mar de água salsa,

o qual sobre tuas faces se espalhará

na leda espera de tua expulsão falsa!

E a cada golpe da revolta vaga,

cada pedra se verá muda e inerte;

e, mesmo que se possa jogar praga,

nelas, de Netuno, só água se verte.

No passar dos anos de sua labuta,

o mar molda–se fraco e fica ordeiro,

que por não transpor o paredão em luta,

molha–no e ainda salga–no por inteiro.

Salvador, 30/01/1999.

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 02/09/2018
Reeditado em 02/09/2018
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