EM TEMPOS DE DISCORDÂNCIAS
No meu quarto solitário
as paredes me assediam
com a tinta parda e fria
cheia de teias de aranhas
pensamentos me assanham
mas logo baixam a fervura
o criador e a criatura
parecem desencontrados
neste ser descompensado
pelas contínuas clausuras.
Na escuridão das noites
vejo claro feito um dia
que as minhas agonias
brotam de atos afoitos
se o amor redunda em coito
e o ódio deságua em morte
busquemos o nosso norte
dentro da nossa harmonia
sem dar sopas ao azar
dando vez a sabedoria.
A flor exala o seu perfume
o talo externa seus espinhos
o homem é vítima dos ciúmes
as águas buscam seus caminhos
as aves constroem os seus ninhos
as noites propagam a escuridão
o sol nos causa a insolação
a solidão nos remete a tristiza
ponha todos estes fatos sobre a mesa
e componha o teor da tua razão.
Em tempos de discordâncias
façamos o nosso dever
não deixando acontecer
ao pior do improvável
quando juntamos cadáveres
espalhamos o descontrole
ao enlutado não há consolo
que não reflita a brutalidade
a muito que a humanidade
patrocina seus dissabores.
LUSO POEMAS, 16/09/2018