D e d i l h a d o

O som deste seu piano,

foge às leis de qualquer forma.

Apelo profundo e plano,

suavidade sem normas.

Parece murmúrio d'águas

lavando das pedras, mágoas

que, o rio em corredeira,

chora numa cachoeira.

Este som que tem perfume,

luz com asas, vagalume.

Minha palavra ficou pobre,

diante do seu dizer tão mais nobre.

Derramando em melodia,

teclas brancas, teclas pretas

mãos regendo magia,

mãos aladas borboletas.

Cheira a vinho requintado,

a sussurros refinados,

sopros de vida na flor,

beijos de beija-flor!

Beleza suficiente,

beleza imprecisa, presente,

movimento transparente

tanta cor que é branco ausente!

De apenas ser... sem enredo,

de muito ter sem ter medo,

pois é só seu o segredo,

deste seu sério brinquedo.