UM RIO QUE PASSOU
 
Da varanda eu avistava,
por entre as sombras da tarde,
o rio que sussurrava
manso, manso sem alarde,
cantando canções bem suaves.

Como em sonho eu as ouvia,
escutava seus lamentos,
e a incontida alegria
de seu marulhar todo dia,
superando o sofrimento.

Perdi-me do rio e do sonho,
o vento os levou eu suponho,
soprou forte, os soterrou.

Neste grande e imenso mundo,
a mim o que me restou
foi um desgosto profundo,
que cresce segundo a segundo
e, sem pena,me devora
pela eternidade afora.