Lareira (forma derradeira)

Diante dessa lareira

Que alimento com cartas não enviadas,

As palavras voam na sua forma derradeira,

Em cinzas de lembranças perdidas,

O aroma defumado de tudo que não foi

E ainda insistentes em estar presente

Para esse espírito em que tudo dói,

Uma assombração calorosa

Incomoda e dolorosamente acolhedora

É o peso no peito que não vai embora

Pela qual se ri e também se chora.

Hoje a chama dela morre,

Já não irei alimentá-la,

Assim como meu fim será,

O frio me pega enquanto tempo corre,

Eis que a solidão me alcança,

Sem mais palavras, nada mais me há.