DAS INTERROGAÇÕES
o que guardam as paredes
o telhado de uma casa
o esteio
as vigas de sustentação.
que abrigo é esse que delimita o espaço
que eu moro
que almas habitam o chão
que eu piso
o que me revela o espelho
resignadamente pendurado no quarto
que me deito
e os retratos no ornamento
dos vãos
que horas marcam o tempo do relógio
que carrego
e a cruz atrás da porta por onde entro e saio
e esse sino na janela que se abre
e esse retrato do santo que me olha
como olha o cão em abandono ao sair
e ao entrar
sem qualquer ação
que reza é essa que me dobra
feito folha de alecrim
e que luz é essa
que alumia
e que me punge
que caminho é esse que percorro
tão estreito e largo
que sementes são essas que eu joguei na úmida e vasta terra
de calcário
pedra bruta
que me doem os pés
que sons são esses que meus ouvidos
ouvem
e esse silêncio que comungo
nas manhãs
e essa estrela que vejo reluzir no céu
distante
nas noites sem a branca lua
e que asas são essas que me dão sustento
quando voo
e que deserto é esse que
me deserta,
que mar é esse
que me aprofunda
que sentir é esse
que me faz
ninguém
Margarida Di