Provisórios
Ter asas, crer nelas,
e no encontro inevitável
abraçar a realidade, amá-la
como se ama a um deus ladrão.
Sem culto a santos, um ardor comovido
Artesão sem mãos
O vento remete
à antiga fresta,
por onde um esquálido
ver-me inútil
deforma e infesta
A antiquada e velha doutrina do deus ladrão
Desmente, amputa e crucifica o artesão
Da palavra livre, do verso orgânico
Do segredo maior que a língua, o sonho
da esperança
do ver pra crer
Há de ser lascivo,
cantar venturas, mentir sorrindo
na quentura da luz violenta
Temer e chorar, provar na fala
A ideia viva que pulsa a pantomina do devir
E sedento ousar no breve momento da vida
Ser eterno, viver, morrer, cair.
Em: 04.10.2007