Provisórios

Ter asas, crer nelas,

e no encontro inevitável

abraçar a realidade, amá-la

como se ama a um deus ladrão.

Sem culto a santos, um ardor comovido

Artesão sem mãos

O vento remete

à antiga fresta,

por onde um esquálido

ver-me inútil

deforma e infesta

A antiquada e velha doutrina do deus ladrão

Desmente, amputa e crucifica o artesão

Da palavra livre, do verso orgânico

Do segredo maior que a língua, o sonho

da esperança

do ver pra crer

Há de ser lascivo,

cantar venturas, mentir sorrindo

na quentura da luz violenta

Temer e chorar, provar na fala

A ideia viva que pulsa a pantomina do devir

E sedento ousar no breve momento da vida

Ser eterno, viver, morrer, cair.

Em: 04.10.2007

Bruno Sousa
Enviado por Bruno Sousa em 11/10/2018
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