MORTE: DO RECOMEÇO

Uma tragédia nos faz repensar toda uma existência. A morte esfrega superioridade em nossa cara e nos pega de surpresa. E nos destrói. E destrói nossos princípios e valores. E destrói qualquer tentativa de arrogância. E de que vale a vida? De que adianta os "valores morais"? O que vale senão o que fizemos, o que deixamos, o quanto amamos? Afinal, no final nada disso fará sentido. Quando alguém se vai só ficam perguntas sem respostas, horas de espera, dias de angústia e anos de lembranças. E aquela tristeza... Aquela maldita tristeza sem tamanho, sem forma, sem cor. Um vazio, um buraco no peito. Bem no meio. Uma ferida exposta,uma cicatriz aberta constantemente, uma cicatriz que nunca secará. Um corte que não há de fechar. Uma árvore sem frutos, uma flor dissecada, um vidro quebrado. Não há volta. Sem volta. Nunca mais. Sem mais.

E o que fica? É quem fica. É dar valor ao que restou. E não esquecer as lembranças, mas guardá-las para o futuro. É não esquecer o que vivemos, mas ver a luz depois do escuro. A morte não é só dolorosa, não dói só por doer, não machuca só por querer. Ela nos modifica, nos transforma. A morte muda quem quer mudar. Muda quem percebe a tempo que briga são tão banais, bens são tão fúteis, o tempo (ou a falta dele) é tão irrelevante. Visto dessa perspectiva tudo se torna tão pequeno... A morte machuca, a morte destrói. Mas essa mesma morte, essa mesma dor, ao mesmo tempo reconstrói.

15/04/2014

Lu Ciana
Enviado por Lu Ciana em 14/10/2018
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