PRECE DE DESALENTO.
Louvado meu bom Deus,
por permitir esse rio que
peleja em minha frente,
e esta brisa que varre
meus sentidos, e me da,
tanto conforto.
Obrigado por esse cão
deitado sobre o caniço,
roendo seu osso com essa
boca boa,
queria eu roer meus ossos
com o mesmo gosto.
Obrigado, digo, meu Deus
por aquela estrela sem luz
disposta no azul do céu,
queria dela a resistência absurda
de lutar contra o astro sol,
dela, queria a ousadia de tentar
ofuscar essa luz que cega.
Obrigado, meu Deus,
por essa boca seca, sedenta
querendo água e beijo,
nela percebo meu corpo vivo,
e minha capacidade de dar
um passo.
Obrigado, digo, senhor,
por minha alma que queima
neste fugaz tempo , agora,
mastigo estas belezas com a boca
afiada do coração,
esse rio, esse cão, e essa sede,
da sentido minha vida,
me toco, e aquele homem morto
de antes, me parece viver,
graças a vossa santa bondade.
Minha prece me revela
nesta tarde quente,
por vossa bondade sou grato,
não leia em mim lamento,
e esse desalento indigno,
é meu,
quando penetro na m'alma,
e percebo o absurdo desta vida que
não me espera,
e esse tempo que voa
a minha frente, ditando o tamanho
dos meus passos,
me faz voltar a querer , vosso braços,
e nele deitar e dormir.