VIDA ESQUECIDA

Na casa os ares eram de festa,

No jardim muitos enfeites,

Na cozinha reluzia a prata dos talheres nunca usados,

Na sala exalava o cheiro dos móveis tão mal conservados.

E todos estavam felizes -

Dançavam, rodopiavam.

Todos exceto ela...

A mulher de olhos perdidos.

Olhos perdidos no além,

Em um passado nem tão distante.

Recordava sua juventude:

- Que juventude? Pensava ela.

Lágrimas vinham lhe aos olhos ao lembrar-se dele.

Um amor que agora ele era negado mas em um primeiro momento lhe fora oferecido.

Agora ela estava ela...

Sozinha, perdida em suas lembranças.

Lembranças de dor, rancor e enfim de saudade.

Saudade de tudo que fora um dia,

Saudade de toda felicidade que por um momento possuiu,

Saudade de sua coragem e vontade para fazer qualquer coisa.

Rancor de si mesma - de não ter alcançado aquilo que mais desejava,

Rancor de de ter deixado sua adolescência escapar por entre seus dedos sem nada poder fazer,

Rancor de seu amado que lhe virou as costas logo após lhe estender as mãos.

Mas a dor... Ah! Essa fora sua única companheira durante esses longos anos.

Dor de tê-lo perdido

Dor de tê-lo deixado ir,

Dor de ter anulado sua vida.

E ela continuava lá...

Sozinha, perdida em suas lembranças...

... E ninguém podia imaginar o que lhe ia na alma -

E continuavam dançando, rodopiando...

E a chuva caia fina lá fora

Sentia-se agora o cheiro de terra molhada,

eu ouvia-se o barulho das águas descendo pelas calhas e levando embora as folhas secas daquela fria noite de outono,

como as lágrimas que agora escorriam pelo seu rosto tentando apagar as lembranças que - só ela sabia - ficaram marcadas para sempre.

05/2003

Lu Ciana
Enviado por Lu Ciana em 21/10/2018
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