O BAILADO DE NAYLA II

Certa feita, lembras?, enfeitada de folhagens,

vermelhas, como teus lábios ardidos dos meus beijos,

mais eu te enfeitei de música, de profusão in crescendo de fusas; te levei ao paraíso do prazer enlevada no carrossel dos metais, dos fractais, dos cheiros e sabores do bolero, de ravel, do céu!

Assomaste, despida, o tablado em meio aos deuses, no ritmo lento e surdo do ta-tã primevo, do desejo, tornando o palco em portal, de vestal, por onde, convidados, cordas, peles e teclas, e claves, sustenidos e bemóis, entraram em adoração a sua alvura, ao brilho do teu corpo, ao raiar

do momento do culto, do hino e da ária do amor e loucura!

Comandaste a pauta, fizeste explodirem os violinos, enciumaste os flautins em luta surda com surdos e harpas; todos, mais e mais querendo a posse, a entrega realizada e o ir-se de todas as tuas virgindades nos braços do manco, o do canto, o lascivo, o de coração apaixonado!

Enfim, ensandecida de bolero e marcha, de ritmo, de linhas e espaços desenhados em teus peitos, em tuas coxas nervosas e trêmulas, enlouqueceste a orquestra no desarmônico da tomada, arrebatada, do teu homem e, dele, todos os cheiros e gozos e banhos de mel do seu íntimo jorrados!

Foste bolero, festa e promessa; sincero e real; quimera, delírio e dança, da mulher, quase criança, nua, pura irmã da lua!

São José, 27/10/2005 – 19:03h