FAXINA

Introspecto queimo todo o lixo que deparo:

O bem do mau, o luxo e amorfo

O sórdido e prolixo da boa intenção

Sob a desculpa da fala, das justificativas

No refluxo prévio da arrebentação

Limpo as gavetas, os arquivos do córtex

Varro o chão da memória, rastelo vértices

Arestas e faces que gramam minhas vontades

As mais sujas e obscuras possíveis

Por meio século sem razão recolhidas

Uso da palavra como ferramenta de mão

Que escava intenções, remexe pensamentos

Remodela a arte transformadora do sentir

Para erguer-se altivo e predisposto

Reforçando colunas e produzir gentilezas

Eis a forma como decompõe-se a cera que me arde

Mínima chama no escuro da morte

Porem transparente e útil como lâmpada e luz

Limpa, livre, solta feito flocos do sal

Que depuram lagrimas de silêncio no porvir da idade

Sigo, por fim, andejo pelos polos de um imã

Que desperto e involuntário reverte meu leque

Provocando por sinais longas tempestades

Cujos ventos internos de sua doma reformam a manhã

Por onde diuturno construo sadias as minhas tardes