Plantador de tédio
Cheiro inebriante dos meus instintos
Os dias passam, me arrastam, eu nem sinto
Como se o tempo não passasse
no chão da cidade, no meio do asfalto,
no sofá, deitado, pensando no pensamento
E olhando pro alto
Plantando, regando as plantinhas de ansiedade
que crescem como maconhas vizinhas daquela verdade
que, sem ela, nos esquecemos que o tempo é curto
não esquecemos e, então, queremos
insaciáveis, entendiados
os olhos revirando e os pulsos cortados
Aguando com o meu sangue
semeando a esperança, sempre distante, e quando vejo,
já tem uma Amazônia no meio da sala
e o senhor Alísio, tímido e fraco, ecoando na estante
De um instante,
Um ritual indígena, eu diria, meio macabro
de fazer troça com a própria fossa
Parece alegria, mas só estou exaltado
querendo alguns minutinhos de prosa
O meu divã é o dia
que eu toco, quando me toco
Num surto constante
De deleite desejo
É a hora do ''pecado''
Todo dia eu consulto o horóscopo
das poesias
que eu persigo, com o meu olhar brega, de apaixonado
As semanas cheias de tédio
À espera de mais um sacrilégio
Onde eu possa me deixar
Levitando
Plantando
Sonhando
Cavando o próprio buraco