Devaneio
Ao esfregar os olhos
E enxergar a fresta da porta
Que abrigava a luz
E iluminava quase
Todo o quarto
Viu que não era sonho.
Ao suspirar aliviada
De não ser mais
Vilã do que sonhava.
Viu que era sonho.
Viu desmanchar
Sobre sua face
As pequenas explosões
Remoidas e caidas
Gota a gota
Como lágrimas.
Viu o soluço
Indecente
Por chorar mais do que
Deveras sente.
Por sonhar mais
Do que a realidade permite
Por viver em nuvens
Sonhando
E não dissociando
O que é real
De um sonho..
Viu o pesadelo
Criando forma
Viu sua volta
Incompreendida
Pelos milhões
Que a assistem
Pela fresta da porta.
Viu que nem de sonho
Se vive o mais imundo homem.
Viu que sem sonho não vive
O mais terrivel ser.
Viu que de sonhar
A vida cobra.
Viu que sem sonhar
A vida também cobra.
Viu que por sonhar
Por não aceitar
A imposição do real
Viu que se sente mais vivo
Do que a última hora no mundo real...