O não-eu

Queria ser livre,

Livrar-me de mim.

Eu, que me perco em mim mesmo.

Mas não mais um Eu tenho eu.

Não passo mais de uma conjectura tosca

Das tentativas vãs

De me pôr satisfatoriamente à vida.

Sou mais as ilusões regadas a entuasiasmo

Do que aquele que as projetou, e falhou.

Queria ser poeta,

Dançar com as palavras,

Dar contornos nobres à minha miséria.

Com as palavras, no entanto, brigo.

Brigaria comigo, idem,

Se um Eu deveras existisse.

Estou cético às avessas.

Estou à beira de minha memória -

Irritantemente efetiva.

Queria ser ávido na vida,

Fazer das ilusões alvos.

Mas estou farto -

Me cansa o não existir.

Charles WP
Enviado por Charles WP em 17/11/2018
Reeditado em 17/11/2018
Código do texto: T6504576
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