O não-eu
Queria ser livre,
Livrar-me de mim.
Eu, que me perco em mim mesmo.
Mas não mais um Eu tenho eu.
Não passo mais de uma conjectura tosca
Das tentativas vãs
De me pôr satisfatoriamente à vida.
Sou mais as ilusões regadas a entuasiasmo
Do que aquele que as projetou, e falhou.
Queria ser poeta,
Dançar com as palavras,
Dar contornos nobres à minha miséria.
Com as palavras, no entanto, brigo.
Brigaria comigo, idem,
Se um Eu deveras existisse.
Estou cético às avessas.
Estou à beira de minha memória -
Irritantemente efetiva.
Queria ser ávido na vida,
Fazer das ilusões alvos.
Mas estou farto -
Me cansa o não existir.