BORBOLETA

O salão está quieto. A orquestra muda.

Os casais dispersos escurecem-se nas ruas.

Riscos de saudades evidenciam-se no assoalho.

Apenas um ponto branco reluz, solitário,

Rege com maestria o piano cego, as liras

E os instrumentos de orgia.

De resto, as esquinas da sala vazia.

Tudo isso por quê? Tudo pela liberdade! São ávidos por ela.

Dançam pela ganância de verem brotar cálidas asas,

Rodando o afeto como um vestido godê.

Por quê? Por quê? Liberdade não será apenas um programa de TV?

E eles dançam e dançam e dançam e dançam...

Noutros bailes, é verdade, mas dançam...

Procuram aqui, procuram ali. Beijam-se aqui, beijam-se ali.

Procuram em rodopios e rodam e rodam.

Lá longe, pela profundeza da janela,

Persiste a sílaba – a liberdade rústica,

Íntegra e intacta – que cobre o silêncio.

Mas o silêncio está quieto ainda. A orquestra, impávida, muda.

O exemplo sou eu. O salão sou eu. A orquestra sou eu. Futuras canções sou eu.

Coitadas das pessoas que as procuram em vão,

Esquecem-se de que o coração vive preso, quase surdo...

Pelo menos chora grudado ao peito

Pedindo o afago de sua mão.

Paulo Sá
Enviado por Paulo Sá em 21/11/2018
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