A joia do Amazonas

Reescrevo meus versos sem muita pressa

No olhar das garças e dos marrecos

Num fumo alvo e espeço sobre as lagoas

Sobre a manha ainda fria que recobre as úmidas solidões

E diante dos meus olhos passam os pássaros raros das palavras

Desabitados num voo livre

Tão longe no transito rio amazonas sem desesperos das marés

Vou com meus olhos se agarrando nas canoas

Nas embarcações

Nas vagas que a lama desse álveo se atesta

Pedras da fortaleza de são Jose

Pedras escuras que somos todos nós

E a maré que vem arrastando o farnel das ventanias.

Crescem no calor da linha imaginaria do equador

Desejos pudicos

Cresce veloz no desgaste dos matizes

Um céu crepuscular em tons vermelhos

As voadeiras no rio se recolhem

Ventos no Beirol aos poucos se ajuntam

Lufam entre prédios e casas na solidez do presente

São as novas memorias de tuas crianças e jovens

Reescrevem essa poesia na discrepância de novos sentimentos

Águas de mirar ao longe

São navios e barcos atracados na lama

É no cheiro digo das confluentes vagas

Que surgem as esperanças

Que surgem as vontades

Nas belas mulheres de tua pátria guerreira

Na delicadeza dos traços

No teu corpo de cidade capital

Joia erguida em meio a concreto e ferro e cinzas e pó e pão

E água externada

No farol das embarcações

Ao longe na fugidia saudade

No açaí no tarumã no tucupi no cupuaçu

Na bacaba e no suor de teu corpo

Coroas o Brasil!

És de sonho e riso...

Avante se vão teus filhos na efêmera memoria de sua idade

Avante cresces assim com sabor da linha do equador

Avante se acorda para o populoso ritmo individual

Para a vida dos pescadores

Das feiras com seu cheiro de ervas e camarão

Avante nas velocidades aparentes de teus bairros e centro.

Nos tambores do marabaixo

Nos carros trancados dentro de seus mundos

Em paradas de ônibus olhares apressados

Não é difícil perceber a vida

Esta em todas as partes de tua pátria

Bebem a consumação de uma existência

Paisagem que se estende nesse rio de vozes e gente

Sob a croa do sol

Cresce no suor e na força dos braços

Nos amores e nas paixões que se dão sem limites

Sem limites suas águas suas baias cansadas

Suas ilhas decotadas

Seus pássaros e a floresta do Tumucumaque

Na sua serra do navio

Na canção popular de suas bocas

Disso tudo eu teci os meus versos

Da riqueza de tua gente sobrevivente

Da riqueza de tuas matas

De teu rio amazonas

De olhares cheios de sonhos

A fruir nesse intermitente destino de luas e marés

Da beira rio a lampejar de um sorriso

Na tua língua a materna mãe de todos os poemas.