Bicho de terra
Todas as vezes em que corri atrás de algo,
eu não soube exatamente o que estava tentando alcançar,
não soube ao certo nem o quanto eu teria que correr.
a memória da estrada me confunde,
mais ainda a de como passei por ela.
Se foi caminhando... rastejando... ou se não passei.
Todas as vezes em que tentei fazer algo,
não terminei.
Na maioria das vezes sequer comecei.
Então tudo ficou no plano dos pensamentos,
dos pensamentos.
Nunca dos sonhos.
Nenhum dia sonhei.
Procurei as asas nas minhas costas para ao menos encolhe-las.
Não estavam fracas, nem quebradiças.
Não existiram antes, e não existem agora.
Descobri que nem todo mundo tem asas,
E que eu era bicho de terra.
Não me contentei,
mas para que eu queria asas se nem sabia para onde gostaria de voar?
Me conformei,
E segui.
Segui com meu casco frágil,
cheio de barro
E meio torto.
Segui prum buraco meio escuro,
fundo, úmido.
Lugar de bicho de terra.
O céu nunca foi lugar pra coisa como eu.
Céu é lugar de passarinho
que me pega,
E me arremessa,
E me come viva,
Pra que eu me faça indigesta
E ele me cuspa
E me vomite
Com a gosma da liberdade...
Da liberdade que exerço dentro do buraco escuro, fundo e úmido.