JOANA

Era assim, ela vinha de longe,

Muito longe!

Apoiava-se num bastão

Que lhe servia de bengala,

Quase nada dizia, bem pouco falava.

Sobre o pretérito franzia a fronte,

Chamava-se,Joana,Maria Joana.

De seu tinha tudo no mundo,

Do arrebol ao entardecer,

Tinha a luz do sol;

A noite,

lhe trazia as mais brilhantes

Estrelas do céu.

E dessa forma ela vinha,

Chamava-se Maria..

Sentia um frio intenso

Intenso e constante,

Ainda que estivesse

Radiante e presente,

o astro rei,

Um pesado casaco de lã cinza,

A protegia.

Cobria-lhe a Cabeça um pano

Branco, tão alvo quanto o algodão

Florescendo nos campos e fazendas

Do seu tempo de menina....

Os passos lentos, os ombros arqueados,

Já era anciã,

Não sabia a idade, mas, quando falava

Dizia ser filha de ventre livre,

E viveu o dia de ouro da lei,

E teve festas o dia inteiro,

O dia todo:

Discursos, desfiles, falácias,...

Salmos, santos e benditos.

Repetidamente os sinos dobravam,

Tudo ali se combinava,

Tudo estava mais bonito.

Já anciã, a idade não revelava,

Mas, a quem quisesse escutar,

Ela dizia,ela afirmava,

Nunca conheci o tronco,

Nem o chicote,

Nem o pelouro,

Nem os desdouros

D'uma vida triste,

Nunca fui escrava,

E Nem nasci cativa,

Sou Filha de um ventre livre!

Assim era Maria,

Assim era Joana.

Apoiava-se num bastão

Que lhe servia de bengala,

Quase nada dizia, bem pouco falava.