Sapatilha de flor

Flor intocável

Semíramis;

complicada, cruel

Dormideira, não sei.

Tocada esfria, esvanece

Finge ser real;

Como flor envelhece

Quizelenta sentimental.

Amor, ilusão áspera

Quimera, cio animal

Instinto sutil espera

Sortilégios efêmeros.

Deslizam nictêmeros

Em paisagens maduras

Como quadro de Van Gogh

Seus lábios sem molduras.

Suas pétalas imorredouras

Num devir imemorial

O sol não alimenta seu ego

O seu corpo inermes, ideal.

Com alguns vermes, apanho

A flor que um dia foi desleal

Que não feneceu, zerou

Fatídico dia de horror, calou.

Apaixonados no Mirante do Leblon

Uma nova mulher em flor

Uma velha mulher sem pudor

Coadjuvante em seu amor?

Vem à tona o amargor

Consumindo minha acédia

Serei um poeta maldito?

Em um mundo de tragédia?

Amor puro

melodia, infinito

Bardo, não colha sua flor

floema sem gozo

No fado de ser flor

Seus espinhos em versos

Há sorrisos imersos

Mistérios de esconderijos

Dia de céu nublado,

Consome-se sem peripécias

Sem música, sem sexo de Charles Chaplin em reminiscências

Sentimentos incompletos,

Rancores repletos,

Flor de espinhos e sevícias,

Amor moderno, antigo, grego, lascado,

Não se escondem dentro de um par de sapatilha.

Ton Machado Guimarães
Enviado por Ton Machado Guimarães em 09/12/2018
Reeditado em 17/07/2020
Código do texto: T6523020
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