Sapatilha de flor
Flor intocável
Semíramis;
complicada, cruel
Dormideira, não sei.
Tocada esfria, esvanece
Finge ser real;
Como flor envelhece
Quizelenta sentimental.
Amor, ilusão áspera
Quimera, cio animal
Instinto sutil espera
Sortilégios efêmeros.
Deslizam nictêmeros
Em paisagens maduras
Como quadro de Van Gogh
Seus lábios sem molduras.
Suas pétalas imorredouras
Num devir imemorial
O sol não alimenta seu ego
O seu corpo inermes, ideal.
Com alguns vermes, apanho
A flor que um dia foi desleal
Que não feneceu, zerou
Fatídico dia de horror, calou.
Apaixonados no Mirante do Leblon
Uma nova mulher em flor
Uma velha mulher sem pudor
Coadjuvante em seu amor?
Vem à tona o amargor
Consumindo minha acédia
Serei um poeta maldito?
Em um mundo de tragédia?
Amor puro
melodia, infinito
Bardo, não colha sua flor
floema sem gozo
No fado de ser flor
Seus espinhos em versos
Há sorrisos imersos
Mistérios de esconderijos
Dia de céu nublado,
Consome-se sem peripécias
Sem música, sem sexo de Charles Chaplin em reminiscências
Sentimentos incompletos,
Rancores repletos,
Flor de espinhos e sevícias,
Amor moderno, antigo, grego, lascado,
Não se escondem dentro de um par de sapatilha.