A Louca

Tente pintá-la como errada, palhaça ou fraca,

Porém ela guarda uma verdade quase cansada,

A voz um pouco baixa de tanto precisar-se dizer,

Acham que ela não se defende, ela já fez tanto;

Assediada, ela fica constrangida e acuada,

Enquanto chocada exigem algum movimento,

Mas qualquer passo, para direita ou esquerda,

Alguém a espreita de acusá-la e culpá-la;

A mulher que fala suas dores é sempre a louca

A mulher que se expressa é sempre tida a louca,

A mulher que não se esconde, louca ela é,

A mulher que faz e se refaz, a bruxa, a louca;

Se ela estiver por cima, ela é uma terrorista,

Se ela fica abaixo, não pode se sentir injustiçada,

Ela só quer ibope, só quer fazer drama,

Entre vítima e vilã, os papeis que as dão;

A corrente entre as mulheres está partindo,

Conflito de gerações, camadas de submissão*,

Ela carrega a culpa de Eva, as culpas dos homens,

Nessa concha de sofrimento, reside uma pérola;

A mulher que sonha com seu espaço, a louca

A mulher que não tem vergonha de si, a louca,

A mulher que ainda não decidiram por ela, a louca,

A mulher que leva sua verdade e vontade. tão louca;

(Data: 12 de Novembro de 2018)

¹O primeiro estrofe é inspirado no caso da senhora que foi constrangida em um trem (por outra senhora), vítima do racismo.

*Camadas de Submissão: Uma espécie de termo como um medidor, quantificando do maior ao menor o nível de submissão numa mulher.

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