Poeta do Brejo

Eu sou um poeta do Brejo

E foi assim que me compus

Fazendo versos de madrugada

Voando com os Sanhaçus

Contemplando as noites de luar

Viola na mão a dedilhar

Eu que canto os pássaros

Que morrem sem ter o que comer

Eu que falo dos ipês

Que escondem sua beleza no mato

A seca é um desacato

Que existe pra fortalecer

Eu que descrevo essa gente

Que racha no sol forte

Esboçando um sorriso

Eu sou o Rei sem coroa

Sem prata e sem castelo

Que inventa uma estória

Com tanto jeito e esmero

Compositor de destinos

De amores e lamentos

A mão sem documentos

Ando meio amarelo

Com o aspecto ensandecido

Mas, é apenas o tecido

Da cor dos que são daqui

É a comida, a bebida e a poesia

A dança radiando alegria

A vida girando em carrossel

Desse povo que estampa sua dor

Na gravura de um cordel