Arranhando as páginas
Quando me faltar a inspiração, estarei morta,
pois não me falta,
nunca me falta inspiração, mas,
quando me dá esse aperto imenso
na alma, eu desenho velhas casas, desenho chaminés,
e aves à voar, desenho flores sem borboletas, ao sol,
com abelhas sem mel, à esmo.
Desenho flores, ah faz tempo que as desenho,
elas me absorvem, levam-me para não sei aonde,
e os meus pensamentos divagam
entre um não querer me encontrar,
um não querer dizer o que me vai por dentro,
por querer fugir desse mundo mudo,
por que nada
do que ele diz me interessa, e por nada achar que
vale a pena dizer, vou no meu valioso silêncio,
sem querer saber nada de você, nem de mim.
Fico com o meu olhar sem vida arrastando-se
para tão distante e por caminhos estranhos me perco,
quando me dou conta do lugar em que me encontro,
cá estou arranhando as páginas, e tantas linhas tortas
e tantos sonhos fogem-me por entre os dedos
e angústias se apresentam diante da minha alma,
que não as recebe,
por encontrar-se já tão sufocada e nada mais quer dizer, só sentir,
pois ninguém poderia compreender, por isso calar é uma saída.