Lentas vozes da fumaça

A fumaça do céu me diz em lentas vozes ilógicas,

Melancólicas

Animadas

Que meu pedido de sanidade

Minha vontade

Lancinante como um raio

Onde em desespero eu caio

Não passa de desejo

O qual eu vejo

Como sempre vi....

Que não tem como se realizar

Bem que tentei

Não sei onde errei

Quando me cansei de ser eu

Quis ser o mundo

Sobrepujar o caos profundo

Ser uma coisa lógica

Compreensível, insensível

Como tudo à minha volta

Abandonando a imensidão cósmica

E não ser mais o turbilhão que sempre fui.

Quando não mais quis viver como um vivente

Quando tentei ser lógico, uma peça que todos entendem

Uma poesia clara, e não um murmurinho de idéias doentes

Uma letra coerente

Algo fora de mim

Pequeno assim,

Como o mundo exije.

Quando tentei pensar fora de minha alma

Pedi que me fosse mostrado como fazer

Como conseguir pensar, escrever, para que todo mundo entenda

Sem pensar que se trata de uma mera emenda

Palavras únicas, feitas por e para uma mente fechada

Que sobre si mesma repousa, em calma angustiante e acomodada

Nesse momento pedi....

Mas as fumaças me mostraram, em lentas vozes

Calmas, sorrateiras, incomuns e destoantes

Que assim eu não seria mais como antes

Não teria perdão, perdão de mim mesmo

Me mostraram que eu entenderia com clareza

Me acomodaria na maior certeza, e isso me dava medo.

Medo de ser como

Um mero brinquedo

Em um jogo de palavras vazias, essas sim seriam vazias

Porque não sairiam de mim, não seria algo anormalmente...

Normal....

Não seriam parte de um cosmo ilógico

Que de tão confuso torna-se fundamental

Então,as vozes na fumaça

Alegres, melancólicas, fizeram-me ver

Que eu não poderia assim querer ser....

Que teria que permanecer

Na sanidade insana de minha alma

Buscando na desorganização do pensamento

A minha própria e particular.... calma.