Narcissus
O filho bastardo de Vênus,
esculpido pelas mãos humanas
[de Michelangelo,
forjado foi no ato maldito à ônus!
Jaz submerso como imortal selo.
Nascido sem religare ou batismo,
órfão autoproclamado no Novo Mundo
[de Narciso.
A sina do Baile das Personas.
Escopo do vinho, gozo e ondas.
Deus de todos os ósculos,
dos transcendentais aos solitários!
Morre em meu estreito corpo ao sentir
[meus secos lábios.
Vomita-me na terra, nela serei pisoteado.
"Na cama dourada adormece,
dos bocejos amarelos embebede-se
e em sonos e sonhos padece."
Serei a pintura suicida que fere-se.
Teu sangue é o que corre
[nos rios e veias minhas.
Teu rosto na água morre
[e se desfaz, Gêmeo meu
e de minhas genealogias.
Morto! No beijo da vida à morte.
Feito segundo Tua imagem,
nasço na amargura da sorte.
Se vivo, morro no mar sem margem.
Dos corpos, tendo o esputo,
afogo meu blasé e tácito luto.
Na mesma espuma que banha
[à mim,
queimo meu esquerdo rim.
Não há a mão que afaga,
somente a que apedreja!
Escarro escorre dos olhos...
A religiosa solidão me beija.