Narcissus

O filho bastardo de Vênus,

esculpido pelas mãos humanas

[de Michelangelo,

forjado foi no ato maldito à ônus!

Jaz submerso como imortal selo.

Nascido sem religare ou batismo,

órfão autoproclamado no Novo Mundo

[de Narciso.

A sina do Baile das Personas.

Escopo do vinho, gozo e ondas.

Deus de todos os ósculos,

dos transcendentais aos solitários!

Morre em meu estreito corpo ao sentir

[meus secos lábios.

Vomita-me na terra, nela serei pisoteado.

"Na cama dourada adormece,

dos bocejos amarelos embebede-se

e em sonos e sonhos padece."

Serei a pintura suicida que fere-se.

Teu sangue é o que corre

[nos rios e veias minhas.

Teu rosto na água morre

[e se desfaz, Gêmeo meu

e de minhas genealogias.

Morto! No beijo da vida à morte.

Feito segundo Tua imagem,

nasço na amargura da sorte.

Se vivo, morro no mar sem margem.

Dos corpos, tendo o esputo,

afogo meu blasé e tácito luto.

Na mesma espuma que banha

[à mim,

queimo meu esquerdo rim.

Não há a mão que afaga,

somente a que apedreja!

Escarro escorre dos olhos...

A religiosa solidão me beija.

Di França
Enviado por Di França em 01/01/2019
Reeditado em 13/01/2019
Código do texto: T6540054
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.