INFLEXÃO DA SAUDADE

Já te vais tão longe de minha memória

Que envelhece sem ao menos ter-lhe dado minha permissão

E agora tudo que me resta levastes contigo em vã comiseração

Nossas contendas, nossas histórias escamadas de escórias

Estou me acostumando lentamente ao fechar das luzes

Já palidamente vejo sombras na relva e tênue escuridão...

O esquecimento é um perfume barato

Que me faz reconhecer palidamente quem é este que se olha no espelho

Carcomido pelo tempo amarelado no porta retrato

O perdão das palavras não dadas tinge o meu céu azul de vermelho

Somos devaneios em círculos

Como fumaças que o tempo molda no ar e dissipa

Palhaços no picadeiro da ilusão e dos vícios

No lugar deste breviário que é o coração deveria existir a tripa

Somos essas peças de uma engrenagem

Como as penas que ficam soltas ao vento quando voam os pardais

Vestígios que vão ficando para trás, ossos nas catedrais, visagens...

Roupas reprimidas que choram estendidas nos varais...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 06/01/2019
Código do texto: T6544262
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