Azuis da cor do mar

Quando me arrancaram da água

eu tinha doze anos

meus cabelos eram castanhos chocolate e

eles caiam como ondas do mar pelas minhas costas desnudas

meu corpo pedia socorro pelo frio

da noite que caira

mais cedo

Puxaram meus braços e ergui minha cabeça com

água pelo nariz

sufocando

sufocando

me arrancaram da água mas deixaram meu coração

nela

deixaram minha alma

nela

Do outro lado da costa a mulher que

cuidara dos meus cachos chocolate com

amor e compaixão

por curtos doze anos

não o fazia mais

seu sorriso brilhante se perdera em mim

como fazem os pais com os filhos crianças

assim que a guerra chega

Quando me arrancaram da água

eu não pude ver os rostos

ou ouvir as vozes

ou tocar nas peles desesperadas

cálidas cheirando a sal

Quando me arrancaram da água

meus olhos fechados no rosto pontilhado de estrelas

não capturaram uma imagem sequer

meus ouvidos prejudicados

não quiseram escutar os gritos desesperados

minhas mãos jaziam

quietas e caladas

ao lado do meu corpo

"Tem uma menina morta no cais!"

eles gritaram para os quatro ventos

Mas eu não estava morta

Quando me arrancaram da água

com sal no corpo e conchas na roupa

com a minha mãe do outro lado chorando o mar pelos olhos

minha vida não acabou

minha vida recomeçou

Quando me arrancaram da água

os meus lábios roxos se mexeram e

meu coração bateu bateu bateu

bateu mais forte

o mar saiu pela minha boca

e então meus olhos se abriram

Azuis da cor do mar