A RUA
A rua tem o azul do manto da virgem Maria
Nas procissões de júbilo e cortejos de agonia.
A rua tem o vermelho das covas rasas e valas abertas
A despejar nos rios, a cor das horas incertas.
A rua tem o branco das pombas voando
Vestes alvas, mãos inclinadas em prece, orando.
A rua tem o amarelo dos fogos de artifício
Um novo começo, para o velho sacrifício.
A rua é incolor, indiferente, insensível
Cobre de cinza a pulsação do artista invisível.
O cinza cálido do fuzil com todo o seu horror.
Ah meu amor, a rua não tem cor.
Ela apenas revela os tons que a vida nela opera.
Ah meu bem, a rua é de quem?
A rua é de todos e de nenhum
Na rua, há metro para cada um.
Venha, abra os olhos, marche, sinta esse frescor
Renove-se de aurora, punhos cerrados em um novo clamor.