Pescadores de ilusões.

Rio, 19.01.2019.

Pescadores de ilusões.

A luz lusco-fusca da manhã de verão,

alumia a partida do nobre yuka,

finalmente liberto desta existência camburão.

Ele sabia e nunca fez segredo,

que "paz sem voz não é paz é medo".

Foi mais um bravo guerreiro do gueto,

um poeta negro, mais uma vítima

da violência que existe na cidade da bossa,

que já é mais perniciosa

até do que maravilhosa.

Me vem agora uma idéia

em forma de aconchego,

tomara que pra onde ele

tenha ido não existam aquelas

grades de condóminos que

são para trazer proteção.

E que não haja dúvida que esses

meus versos são uma forma

de homenagem e oração.

A vida poderia ter sido mais

suave com ele, é bem verdade,

mas dizem que é a viração

que faz o bom marujo.

Que pelo menos no outro plano

ele encontre algum refúgio

de todas as injustiças e desigualdades

desse nosso louco mundo.

Mas voltando a essa manhã na qual

eu ouso catar na superfície

as palavras de um livro sem final,

é certo que não foi a toa, que valeu a pena.

A duras penas ele foi embora...

Pra outras esferas, outras dimensões...

Sentiu a dureza da vida a vera,

violências e aflições. E aqui seguimos nós,

feito ele, pescadores de ilusões."

Clayton Márcio